Biosseguridade em produção animal é o estabelecimento de níveis de segurança através dos quais se objetiva diminuir ao máximo o risco de introdução de novos agentes na granja. Com a ocorrência de casos de influenza aviária em aves silvestres e criações de subsistência no Brasil, este tema tão importante merece um olhar mais aprofundado.
A biosseguridade é composta por diversos elos de proteção, sendo um dos mais importantes os processos de limpeza e desinfecção. E dentro deste elo, o processo de desinfecção muitas vezes é negligenciado e trabalhado de forma ineficiente, seja pela execução falha do processo (manejo e diluição), ou pela escolha inadequada do desinfetante.
Os desinfetantes são antimicrobianos inespecíficos utilizados para eliminar as formas vegetativas de micro-organismos em superfícies ou objetos inanimados. Assim como o uso inadequado de antibióticos pode levar a uma perda de eficiência terapêutica, o mesmo ocorre com os desinfetantes.
A ocorrência de “resistência” a desinfetantes desenvolvida por algumas bactérias patogênicas, infelizmente, já é uma realidade. Entre os principais mecanismos de “resistência” já descritos, se encontram as bombas de efluxo, que bombeiam os desinfetantes do interior da célula para o exterior; e as alterações metabólicas que permitem não só a sobrevivência, mas também a replicação de células bacterianas em meios em que o desinfetante erroneamente diluído é a sua única fonte de carbono e nitrogênio.
Para se ter uma ação efetiva e prevenir o surgimento de bactérias menos sensíveis à ação dos desinfetantes, têm-se como os principais pontos de atenção:
-O processo prévio de limpeza e retirada de matéria orgânica
– A concentração do desinfetante
-O método de aplicação
-O volume de calda a ser aplicada no ambiente
-O tempo de contato do desinfetante e a escolha adequada do princípio ativo.
Concentração
A utilização da concentração recomendada do desinfetante é essencial para se atingir os melhores resultados. Neste sentido, é importante considerar tanto a concentração do princípio ativo no produto escolhido quanto a concentração do desinfetante pós-diluição, ou seja, a concentração do desinfetante na calda (desinfetante + água) a ser aplicada no ambiente.
Ainda que maiores concentrações promovam uma melhor eficácia, o limite superior de concentração de um desinfetante pode ser restringido pelos efeitos adversos que podem provocar em pessoas, superfícies e equipamentos (a exemplo o efeito corrosivo de desinfetantes a base de monopersulfato de sódio em equipamentos metálicos), e também pelo investimento financeiro necessário para se atingir a concentração alvo. Entretanto, uma concentração abaixo do recomendado pode propiciar a ineficiência do processo de desinfecção contra o micro-organismo alvo, levando a perda de eficiência da molécula. Outro fator importante a se considerar é a presença de águas residuais do processo de lavação nas instalações, as quais podem propiciar uma possível diluição do desinfetante.
Aplicação
O método de aplicação também deve ser considerado, visto que a ação do desinfetante se dá através do contato direto com a superfície dos equipamentos e instalações. A presença de matéria orgânica, além de prover uma barreira física que protege os micro-organismos do contato com desinfetantes, também pode reduzir ou inativar a resposta de alguns princípios ativos. Diante disso, a realização de um bom processo de limpeza prévia com um detergente adequado é importante, sempre levando em consideração a interação entre o detergente escolhido com o princípio ativo do desinfetante utilizado.
Além da concentração, é importante considerar também o volume de calda necessário para cobrir toda a superfície de contato do galpão, garantindo assim uma boa desinfecção. Em geral, a área de superfície para desinfecção do galpão é equivalente a 2,5 a 3 vezes a área do piso, enquanto que o volume de calda (água + desinfetante) necessário é equivalente a 1 litro a cada 2 m² de área.
O tempo mínimo de contato do desinfetante com a superfície das instalações também deve ser um ponto de atenção, pois de acordo com o princípio ativo, o tempo necessário para
matar ou inativar os micro-organismos pode variar.
O potencial de desinfecção varia de acordo com a sensibilidade do agente alvo ao princípio ativo do desinfetante escolhido. Já é bem estabelecido que príons e coccídeas são as categorias de agentes mais resistentes a ação de desinfetantes, enquanto que as bactérias gram positivas e gram negativas não geradoras de esporos são as mais sensíveis. Neste tema, um destaque importante deve ser feito em relação aos diferentes tipos de vírus existentes: vírus envelopados e vírus não envelopados. Os vírus envelopados, como o vírus da Influenza Aviária e vírus da Bronquite Infecciosa, possuem um envoltório lipídico, que os tornam altamente susceptíveis a inativação por desinfetantes e fatores físicos, enquanto que os vírus não envelopados, como o vírus da Doença de Gumboro e o Reovírus, são mais resistentes a inativação.
A nebulização ou pulverização são processos de aspersão aérea do desinfetante, com o objetivo de redução da pressão de infecção e nível de poeira do ambiente, concomitante a uma atuação nas vias áreas da ave, de acordo com o diâmetro de partícula gerada. Neste processo, a escolha do desinfetante é fundamental, pois princípios ativos como fenóis e aldeídos agridem a mucosa respiratória das aves, não sendo recomendados para esta finalidade.
O processo de nebulização pode ser realizado tanto de forma preventiva a enfermidades, quanto como terapia de suporte, de forma a reduzir o efeito clínico de quadros respiratórios já instalados. A nebulização deve ser realizada no período mais fresco do dia, fechando-se as cortinas dos dois lados do galpão, ou apenas do lado que estiver na direção do vento, com duração mínima do procedimento de 10 minutos. Para uma nebulização eficaz deve-se utilizar 5 mL de calda para cada ave.
Ao se definir o desinfetante utilizado na granja, deve-se buscar princípios ativos de vanguarda, com amplo espectro de ação e comprovada eficiência contra os agentes patogênicos alvos.
Dentre os princípios ativos disponíveis no mercado, os desinfetantes a base de cloreto de didecildimetilamônio (DDAC) modificado se destacam, pois além de atender os critérios já relatados, não apresentam toxicidade para as aves devido a modificação na cadeia de DDAC, que leva também à ampliação do seu espectro de ação e potencial de desinfecção contra bactérias, fungos, vírus envelopados e não envelopados. O fato do DDAC modificado não apresentar toxicidade permite que este desinfetante possa ser utilizado não apenas na desinfecção geral de instalações e equipamentos, mas também na aspersão em galpões com a presença de animais, desinfecção de ovos e na desinfecção de água de bebida, desde que respeitadas as diluições indicadas em bula.
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